1º Colégio Bilíngue de Campo Limpo Paulista

Mural do aluno – Novembro/2021

Veja as crônicas que dois alunos do nono ano produziram através da disciplina de Oficina de redação. 

 

Um bar de lamentações 

Desce mais uma dose, garganta abaixo, ardente. 

A ansiedade de pensar no amanhã causa descontentamento, também acalenta-me a esperança de mais um nascer do sol. O movimento que lentamente adentra o local me faz refletir acerca do sentimentalismo repentino que invade meu ser; penso em nada ao mesmo passo em que tudo me vem à cabeça, sem saber exatamente o que “tudo” significa; penso em todas as palavras não ditas, penso em mágoas e remorsos, sinto-me entusiasmada pelo ato de viver, melancólica pela vida a ser vivida. 

“Às vezes sobrevivemos, esquecendo que vivemos”, recordo-me dos bons conselhos ignorados, daquelas conversas que tocam a alma e não voltam, apenas se aconchegam vividamente na memória. Talvez seja a bebida subindo, me fazendo lembrar do outro alguém e de uma relação desgastada há tempos; talvez seja o estresse causado pela lembrança de filhos a serem educados com excelência e paciência; talvez seja a angústia que o corrido dia-a-dia acompanha, aquela insegurança de tanto para viver e pouco tempo para conseguir ver. A linha tênue entre vazia e completa, triste e feliz, típica mulher do século XXI: agridoce.

Sou pega de surpresa por um êxtase não planejado. Me vêm à memória horas singulares, dias de certa calmaria, risadas genuínas e conversas demoradas, cafés quentes e corações gélidos. Dizem que a felicidade está nos pequenos momentos, talvez eu seja egoísta demais para crer plenamente: ninguém nunca disse que seria fácil viver, também nunca ouvi que seria perda de tempo (apesar de eu não ter muito de sobra). 

Talvez todos eles sejam iguais, meu pensamento é afetado constantemente pela mesmice dos olhares que se atentam a todos os meus passos; penso que não caibo em julgamentos, sou muito espaçosa. A vida pode não andar fácil, mas dizem que a pressa é a inimiga da perfeição, então vivo dia após dia, rancor após rancor, as velhas decepções são perdoadas, nunca esquecidas. Me perco em minha mente cada vez mais, mas em certo ponto desperto como se saísse de um transe.

Meu copo encontra-se à minha frente, em cima da bancada marrom-escura iluminada por luzes fracas, está vazio, o gelo se derretendo depressa. Agora sinto-me tola em pensar que o que penso realmente importa, que por um instante posso me permitir não guardar estes apenas no subconsciente, afasto-os um a um, provável que voltem algum dia desses. Digo então, em tom grave e manso, audível o suficiente para todos à volta:
– Garçom, por favor, mais uma dose na conta .

Emily Trindade

 

O bêbado no trem

Uma vez, quando eu era pequeno, tive que ir trabalhar com minha mãe, pois não podia ficar sozinho em casa. Fomos para São Paulo de trem. Em determinado ponto do trajeto, entrou um bêbado no trem, que ria muito e falava super alto. Não demorou muito para ele conversar comigo, ele dialogava como se fosse meu melhor amigo. Ele estava querendo ajuda para salvar a amiga dele que estava fora do trem. 

Quando chegamos na próxima estação, ele queria muito que eu o acompanhasse na descida, visto que até chegou a me puxar pra fora, mas a multidão não permitiu que eu fosse levado. Ele percebeu que não conseguiria me tirar dali, então, por ter gostado muito de mim, ele me deu seu anel. 

Atualmente, nem sei onde está. Falando a verdade, perdi no mesmo dia.

Homero Daniel

 

Noite contraditória

Há um ano, pela madrugada, ouvi barulhos, como se tivesse alguém caminhando pela casa. Não me preocupei muito, afinal, a coisa não parecia séria.

Já estava quase pegando no sono quando ouvi um quebrando e notei um vulto pela janela, então, decidi sair.

Abri a porta da sala e para a minha defesa, peguei um cabo de vassoura. Isso para caso algo ruim acontecesse. 

Dei uma volta no quintal por mais ou menos dez minutos e só então que entrei para descansar.

Subi para o meu quarto e, ao deitar-se na cama, ouvi a porta da sala abrir de forma lenta. Portanto, tive que descer para verificar o que estava acontecendo.

Fui descendo as escadas de maneira lenta e cautelosa. Quando cheguei no último degrau, a luz da sala acendeu de forma repentina.

Era a minha mãe. Com um bolo de aniversário na mão. Cantando “parabéns pra você”.

Levei um susto, mas logo soltei uma gargalhada. Fiquei muito feliz. Vi minha mãe depois de dois longos anos sem ela. Sem dúvidas, esse foi o dia mais assustador e feliz da minha vida.

Thainá Magalhães

 

On-line 

O mundo real sempre foi ruim, estressante e cheio de desaprovação. Pra isso existem os finais, certo? 

É como se eu jogasse e em um passo de mágica, eu me libertasse. Dessa vez, sem regras, sem pessoas determinando quem eu devo ser. Logo, vou jogando, errando e de novo, me estressando. Repito o ciclo.

E esse se torna sem fim, com dias e dias de estresse não curado.

Então, um dia, bem pior do que o normal, encontrava-se no meio do jogo, ele estava fragilizado, instável. E logo em seu primeiro erro, foi martirizado, esnobado e o pior: deixado.

Se perguntassem o porquê do ódio contra ele ou o porquê de manter o personagem sendo controlado por alguém ainda mais amargurado, eu não saberia responder. Apenas posso dizer que era uma amargura que eu já conhecia. 

A minha própria.

Matheus Maciel